Sierra de la Silla

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Monterrey, Nuevo León, México

segunda-feira, 24 de março de 2014

Celebrando a Vida e a Morte I

Estou um pouco sumida. Meio sem inspiração. Em adaptação.

Neste final de semana, uma colega de trabalho do Alessandro (maridón), faleceu em um trágico acidente de carro. Ficamos muito mal, porque era jovem, de bem com a vida. Voltava das férias e havia recém feito aniversário. Deixou marido e duas filhas pequenas. Ela em algum momento de sua vida havia pedido ao marido que, se morresse antes dele, gostaria de ser cremada. Ele, claro, atendeu ao pedido da esposa.

A missa, de corpo presente, foi no sábado de manhã. Deixamos as crianças em casa, e fomos os dois para o compromisso. Bem, missa é missa. Certo? Bem, sim. Enterro é enterro. Certo? Nem sempre.

Chegamos ao "cemitério" uns quinze minutos antes da hora marcada para a missa. Um prédio que mais parecia um hospital ou uma clínica. Tudo muito amplo, limpo, bonito e de bom gosto. Uma coisa que me chamou a atenção logo de cara foi a inexistência de cancela para o estacionamento. Uma mostra de respeito com a dor dos outros. Gostei muito disso. Subimos de elevador e me deparei com uma recepcionista, uma ampla sala de espera, algumas pessoas conversando em poltronas. Trocamos algumas palavras com o irmão da moça. Entramos para a sala "de estar" onde se encontravam muitas poltronas e sofás com espaço para umas 50 a 70 pessoas confortavelmente.  Familiares, amigos. Alguns, chegando de viagem (ela era da Cidade do México e morava aqui há aproximadamente um ano), com mala e tudo. Logo na frente, a urna. Lacrada. Parece que aqui, mesmo que a morte seja por causas naturais, elas permanecem lacradas. O corpo não fica exposto. Muitas coroas, cruzes e arranjos florais com a flor Dália (o nome da moça) entre lírios, rosas, orquídeas.Um gigantesco quadro de Nossa Senhora pendurado sobre a urna.

Pontualmente, fomos chamados para o "Oratório", onde seria celebrada a missa. Nos dirigimos ao recinto, todos comovidos, mas em silêncio. A urna foi transportada até lá. O padre, que não conhecia Dália falou algumas palavras amáveis sobre ela. Em algum momento da missa foi dada a oportunidade para quem quisesse prestar uma última homenagem, fazê-lo. Uma amiga falou algumas palavras. Terminada a missa, quem desejasse, poderia ir até onde estava a urna, fazer uma prece, etc. Fomos convidados a voltar para a sala do velório.

Chegando na sala do velório, decidimos antes de ir embora (o ritual se estenderia até ao meio dia, mas não iríamos ficar) ir dar os pêsames à mãe de Dália. O marido ainda estava no hospital, internado com as duas filhas do casal. Trocamos algumas palavras com ela, que estava muito conformada. Quando já íamos embora, nos despedindo do irmão de Dália, notei uns homens uniformizados com umas jaquetas de camurça, umas vinho, outras negras. Mariachis. Trazendo instrumentos para o recinto, colocando ao lado da urna. Trombone, bateria, microfones, trompetes... (!!!). Eu e Ale olhando de canto de olhos e não entendendo nada. De repente, eles começam a tocar. E não uma música lenta, melancólica. Uma música acelerada, animada. Mas quanto mais eles cantavam, mais as pessoas choravam. De repente, olhamos em volta e todos, que até esse momento estavam contidos, começaram a chorar copiosamente. Devia ter a ver com a letra, pois a música era animadíssima. Bem, eu deveria ter ficado até o final. Mas acabamos voltando para casa, pensando em como os rituais são culturais. Jamais pensaria em algo assim no Brasil.


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